DIDI. Técnico. Valdir Pereira (Campos, RJ, 8/10/1928; +Rio de Janeiro, RJ, 12/5/2001). Disputou 21 partidas oficiais e 9 amistosos entre 1981/82.
Didi havia encerrado contrato com o Nacional de Jedá, da Arábia Saudita, e passava férias em Montreaux, na Suíça, quando recebeu o convite para ser o novo técnico do Cruzeiro em 31/7/1981. Ele foi chamado para substituir Procópio, que havia deixado o Cruzeiro na 8a rodada do Campeonato Mineiro. Sua apresentação ao elenco foi inusitada. O clube o homenageou com um churrasco, na Toca da Raposa, em 1/8/1981, que contou também com a presença de associados e conselheiros. Dirigiu o primeiro treino em 3/8/1981 e numa entrevista declarou que "jogador não gosta de conversa longa com treinador". Também adiantou: "Não vim para ser o salvador da pátria". No dia 5/8/1981, dirigiu o primeiro treino coletivo que foi acompanhado por uma multidão de cruzeirenses que superlotaram as arquibancadas da Toca da Raposa. Havia uma grande expectativa com a sua contratação, pois Didi era respeitado por ser bom estrategista e organizador de equipes. Pediu a contratação de Zezé Moreira para ser o administrador de futebol, mas o diretor Milo Nicolai prometeu deixar o cargo caso o pedido fosse atendido, pois perderia sua função na Toca. Zezé recusou alegando não reconsiderar a sua aposentadoria no futebol. O Cruzeiro foi o segundo clube brasileiro que Didi dirigiu (começou no Fluminense em 1975).
Legião Estrangeira
Didi participou de um momento histórico na vida do Cruzeiro. Foi o segundo técnico a dirigir o time que disputou o Campeonato Mineiro de 1981, que ficou conhecido como "Legião Estrangeira". Naquele Campeonato Estadual, o Cruzeiro rompeu uma tradição de 60 anos. Pela primeira vez, o time do Cruzeiro foi formado, em sua maioria, por atletas de outros estados. Assumiu o comando técnico do time em dois amistosos. Quando Procópio deixou o time a duas rodadas do fim do turno da primeira fase, o Cruzeiro estava na 3a colocação, com 11 pontos (três a menos que o líder Atlético que tinha um jogo a mais) e um ponto a menos que o Villa Nova. O supervisor Cento e Nove, assumiu o time nas duas partidas finais e conquistou duas vitórias contra Villa Nova e Tupi e entregou o cargo a Didi com o time dividindo a liderança com América e Villa Nova, todos com 15 pontos. O Atlético caiu para a segunda colocação com 14.
Início frustrante com terno e gravata
Antes do início do returno da Primeira Fase do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro disputou uma série de amistosos. Estas partidas marcaram a estreia do técnico Didi, que se tornou o primeiro técnico de futebol a orientar o time ao lado do campo usando terno e gravata no Mineirão. Para a frustração da torcida cruzeirense, a campanha nos amistosos foi frustrante e sem nenhuma vitória: 1-0 para o Botafogo, 5-0 para o América, 0-0 Valerio, 2-2 Seleção do Peru, 1-0 para o Universidad Catolica (CHI). No entanto, o time tornou-se imbatível no returno do Estadual. Já na 6a rodada, tornou-se líder isolado até o fim do returno; garantiu presença no Hexagonal Final com três rodadas de antecedência; e terminou a 1a fase na 1a colocação com 5 pontos de vantagem sobre o vice-líder Atlético. "Quando cheguei aqui, não encontrei no plantel um ambiente de amigos. A conversa entre os jogadores era muito ruim. Agora, não. Eles conversam dentro e fora do campo e os resultados tem aparecido." (Revista Placar 30/10/1981)
Vitória histórica no clássico sem Didi
Curiosamente, Didi foi impedido de dirigir a equipe no clássico de 11 de outubro. Os clubes que disputaram o Campeonato Mineiro acordaram que a renda das partidas seriam do mandante. No clássico do turno da Primeira Fase em que o Cruzeiro foi o mandante, o Atlético anunciou que escalaria os reservas. A medida seria para prejudicar a renda que seria toda do Cruzeiro. Este clássico terminou empatado sem gols, em 28 de junho. No clássico do returno, em 11 de outubro, o Cruzeiro deu o troco e escalou os reservas. No entanto, os reservas que foram dirigidos pelo auxiliar técnico Vicente Lage, o Cento e Nove, venceram os titulares do Atlético por 1 a 0 com gol do apoiador Jacinto. Foi uma vitória que se tornou histórica.
Desafios das torcidas
O clássico do turno do Hexagonal foi o primeiro de Didi dirigindo o time do Cruzeiro. Ambos os times dividiam a liderança do hexagonal com 6 pontos cada. Por causa dos boicotes da primeira fase para prejudicar a renda do mandante, os clubes revogaram a medida a partir do Hexagonal Final. No entanto, a polêmica ganhou um novo contorno e um momento histórico no clássico. O presidente da ADEMG - Administração de Estádios de Minas Gerais - que era a autarquia criada para cuidar do Mineirão, era Afonso Celso Raso. Para o clássico do turno do hexagonal final ele tomou uma medida inédita e lançou o "Desafio das Torcidas". Mandou confeccionar bilhetes de entradas diferenciados para atleticanos e cruzeirenses para saber quem seria a maioria no clássico. A medida atraiu 113 mil torcedores ao Mineirão. Na apuração dos bilhetes, a torcida cruzeirense venceu o desafio com uma diferença de 2.245 a mais que os atleticanos. O clássico histórico terminou empatado em 1-1, em 8/11/1981, com sabor de vitória pra torcida cruzeirense.
Villa Nova e Uberaba derrubam o Cruzeiro na caminhada pelo título
No returno do Hexagonal Final o time caiu de rendimento e sofreu tropeços caóticos pelo caminho. Na 1a rodada, quase foi goleado pelo América e arrancou um empate em 3-3 nos minutos finais. O resultado fez o time cair para a vice-liderança e o Atlético passou a somar um ponto a mais. Na 2a rodada, o Atlético que já havia perdido seus dois confrontos contra a Caldense, na 1a fase, voltou a perder um ponto com um empate em 0-0. No entanto, o Cruzeiro foi superado pelo Villa Nova, que não havia ganho de ninguém no hexagonal, em pleno Mineirão, por 1-0. A derrota interrompeu uma série invicta de 23 partidas no Estadual. A vantagem para o Atlético passou a ser de 2 pontos. Na 3a rodada do returno do Hexagonal, outro resultado surpreendente - um empate em 1-1 com o Uberaba. Com a vitória sobre o América, o Atlético aumentou a vantagem para 4 pontos. Dali, pra frente o Cruzeiro não dependia mais de si mesmo. Na rodada seguinte, venceu a Caldense, mas o Atlético venceu o Uberaba e conquistou o título do estadual com uma rodada de antecedência. O desfecho foi ainda mais triste. Derrota por 2-0 para o Atletico com Nelinho sendo expulso, após revidar uma pancada sem bola do atacante Éder, nos minutos iniciais do clássico, que desequilibrou o time em campo, que ainda teve Eudes e Zé Henrique expulsos, além de uma pancadaria generalizada entre os atletas antes do intervalo.
Tempos de Bendelack e Toby
A frase "o time está tuim ruim, como o dos tempos de Bendelack e Toby" passou a ser uma referência de time medíocre para a geração de torcedores cruzeirenses que vivenciaram a campanha desastrosa no Campeonato Brasileiro de 1982. A frase permaneceu entre os torcedores cruzeirenses até meados da década de 1990. O time formado pela diretoria para a disputa daquele Brasileirão contou com as contratações do atacante Bendelack e do armador Toby - que eram desconhecidos e atendiam por apelidos diferentes. A campanha foi um vexame histórico.
Fim da Legião Estrangeira do Estadual de 1981
Didi deixou o time após a goleada por 3-0 sofrida para o Bangu na estreia. Rescindiu contrato com o Cruzeiro, em 19/1/1982, para aceitar o convite para treinar a Seleção de Novos do Equador. O contrato vantajoso com salários de Cr$ 5 milhões estavam muito longe da realidade do Cruzeiro que nada pode fazer a não ser deixar o técnico ir embora. A goleada vexatória para o Bangu na despedida de Didi não seria a primeira. Na sequência vieram goleadas sofridas para Mixto, Bahia e Operário (MS); uma classificação para a segunda fase numa partida (de repescagem) contra a Desportiva (ES), a eliminação na segunda fase com uma derrota por 1-0 para a Anapolina, no Mineirão, e uma despedida trágica com uma goleada por 4-0 sofrida para o Fluminense. A campanha desastrosa marcou, praticamente, o fim do time do Cruzeiro que ficou conhecido por Legião Estrangeira no Campeonato Mineiro de 1981, que teve Didi como participante. Apenas Eudes permaneceu no time. Todos os outros deixaram o clube. Apesar do fracasso da Legião Estrangeira, o Cruzeiro continuou a formar equipes com maioria formada por atletas de outros estados e países.
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