domingo, 5 de fevereiro de 2023

JOÃO CRISPIM - técnico interino do Cruzeiro no Campeonato Mineiro de 1971

JOÃO CRISPIM. Técnico. Como técnico interino, disputou 10 partidas oficiais pelo Campeonato Mineiro de 1971.
João Crispim que dirigia, simultaneamente, o elenco juvenil e de aspirantes do Cruzeiro desde 1966, participou de dois momentos históricos do Cruzeiro e do Campeonato Mineiro. Tudo começou em 1969, com a decisão do Conselho Nacional do Desporto de extinguir a categoria de aspirantes. Era uma divisão que existia desde que o futebol começou no Brasil e que tinha seu próprio campeonato. Durante décadas, as rodadas dos Campeonatos previam rodadas duplas com os aspirantes fazendo a preliminar dos times principais. Por exemplo, quando a rodada marcava o clássico Atlético e Cruzeiro, os torcedores que chegavam mais cedo acompanhavam, na preliminar, o clássico entre as equipes aspirantes. No princípio, os aspirantes eram formados por atletas reservas e levava o nome de segundo quadro (second teams), enquanto os titulares formavam o primeiro quadro (first teams). A categoria foi perdendo valor durante os anos 60. Os aspirantes passaram a ser formados por um misto de reservas e atletas dos juvenis. Por isso, João Crispim, foi contratado em 1966, para dirigir o juvenil e os aspirantes do Cruzeiro. 

Parceria com o Atlético Três Corações no Campeonato Mineiro de 1970
Com a extinção dos aspirantes em 1969, os atletas que formavam a categoria ficaram sem atividade. Foi aí que João Crispim participou de um momento histórico. A diretoria do Cruzeiro firmou uma parceria com o Atlético Três Corações e emprestou todo os atletas aspirantes mais a comissão técnica, incluindo, João Crispim, para a disputa do Campeonato Mineiro de 1970. O Atlético tricordiano passou a ser uma espécie de filial do Cruzeiro naquele estadual. Isto não havia acontecido antes na história dos estaduais. Assim foram emprestados Marcílio, Peconick, Aloísio, Miro, Geraldo Galvão, Zé Maria, Valdir, Luiz Fábio (o Ananias), Baiano, Batista, Petronilho, Jeremias e etc. Havia um Roberto Batata na equipe, mas não era o Roberto Batata do Cruzeiro. Este continuou no Cruzeiro e não foi emprestado. Sob o comando de Crispim, a equipe terminou o estadual na 9a posição e, curiosamente, tirou um ponto do próprio Cruzeiro no Campeonato, quando arrancaram um empate (0-0), no Mineirão. O goleiro Tião ainda defendeu um pênalti cobrado por Zé Carlos.

Mistão na Taça Belo Horizonte
A semente havia sido plantada e o presidente Felício Brandi seguiu planejando formas de se aproveitar os atletas da categoria. Assim, em janeiro de 1971, Cruzeiro e Atlético solicitaram uma permissão da Federação Mineira para utilizarem seus aspirantes na disputa da Taça Belo Horizonte. Era segunda edição do torneio que foi criado para anteceder o Campeonato Estadual e que tinha todas as partidas disputadas em Belo Horizonte. A Federação Mineira acatou o pedido para que o Atlético focasse apenas na disputa do Torneio do Povo - criado pelo CND - e para que o Cruzeiro pudesse atender aos convites para a disputa de amistosos no exterior no período de disputa da Taça Belo Horizonte. Naquele ano, o Cruzeiro tinha em seu elenco quatro campeões mundiais de 1970 pela Seleção Brasileira (Tostão, Piazza, Fontana e Brito) e, por isso, recebia muitas propostas de empresários interessados em levar o time para amistosos em vários países com contratos que previam pagamentos em dólar. Em 1971 a moeda estadunidense valia quase 6 vezes mais do que a moeda brasileira. Sem contar que as despesas eram todas pagas pelos promotores dos amistosos. Assim, cada amistoso desse chegava a somar a parte que cabia ao clube das rendas de 8 partidas do Estadual, ou seja, quase um turno inteiro! O técnico João Crispim dirigiu o time misto nas 5 partidas da Taça Belo Horizonte que se encerrou em março, enquanto os titulares fizeram 11 amistosos pelo Uruguai, Argentina, Bolívia, Colômbia e Peru. O mistão do Cruzeiro terminou a disputa da Taça Belo Horizonte como 3o colocado e o atacante João Ribeiro se consagrou como o goleador máximo com 5 gols marcados. Curiosamente, o time contou, em algumas partidas, com alguns nomes consagrados como o goleiro Hélio, o lateral direito Pedro Paulo e os atacantes Evaldo, Natal e Rodrigues e outros que ainda buscavam espaço no time e que se consagrariam anos depois como o zagueiro Darci Menezes, o meia Eduardo e o atacante Palhinha, além do ponta direita Gil que disputaria a Copa do Mundo de 1978, como  titular da Seleção Brasileira e atendendo pela alcunha de "Búfalo Gil".

Misto Quente no Campeonato Mineiro e Cruzeiro Exportação
Após o término da Taça Belo Horizonte de 1971, o técnico João Crispim participou de mais um momento histórico do Cruzeiro e do Campeonato Mineiro. O Cruzeiro continuou recebendo propostas vantajosas, com contratos em dólar, para o time se apresentar em outros países e não queria perder a oportunidade, pois tinha que fazer caixa para manter os salários dos craques do time, como Dirceu Lopes, Zé Carlos, Piazza, Fontana, Brito, Tostão e Raul, que eram, constantemente, cobiçados pelos clubes do eixo Rio-São Paulo. O presidente do Cruzeiro Felício Brandi reclamava do deficitário Campeonato Mineiro e decidiu escalar o mistão que disputou a Taça Belo Horizonte no Estadual. Foi uma iniciativa sem precedentes no Campeonato Mineiro que, naquela época, era um título muito valorizado. Os titulares passariam a atuar nos amistosos pelo Brasil e, principalmente, no exterior. A medida dividiu opiniões e foi recebida com protestos por parte dos clubes do interior que se viram prejudicados com a diminuição das rendas das partidas. Por outro lado, Felício Brandi se defendia e dizia que estava colaborando com o ministro da fazenda, Delfim Neto, que incentivava as exportações brasileiras. Felício argumentou que o futebol era o produto do Cruzeiro e que o clube iria colaborar com a economia do país. Foi a partir daí, que o clube ganhou o apelido de "Cruzeiro Exportação" que permaneceu no linguajar da torcida cruzeirense até o final dos anos 80. O técnico João Crispim dirigiu o time misto no Campeonato Mineiro que realizou uma campanha surpreendente e que rendeu o apelido de "Misto Quente". Enquanto isso, os titulares disputaram 7 amistosos pela Colômbia, Costa Rica, Honduras, Guatemala, El Salvador e Panamá, além de um torneio amistoso com dois amistosos na Bahia. Quando os titulares estavam no Panamá, a diretoria cruzeirense recebeu uma intimação do Conselho Nacional do Desporto para que retornassem ao Brasil e disputassem o Campeonato Mineiro sob a ameaça do clube ser penalizado de exclusão do próximo Campeonato Brasileiro. Assim, o clube teve que cancelar à excursão que faria a Ásia e os titulares retornaram. O misto quente foi desfeito, após a 10a rodada do turno - antes da rodada final contra o Atlético. Terminou a campanha na 2a colocação do Estadual, com 2 pontos atrás do líder América e 4 pontos de vantagem sobre o 3o colocado, o Atlético.

As passagens de João Crispim pelo Cruzeiro
A primeira passagem de João Crispim pelo juvenil do Cruzeiro foi em 1961, quando deixou o comando do juvenil do América, onde estava desde 1953 e conquistado o pentacampeonato estadual de 1953, 54, 55, 56 e 57. Após dois anos, retornou ao América em 1963. 
Foi, então, em fevereiro de 1966, que retornou ao Cruzeiro com a missão de dirigir os juvenis nos Campeonatos de Juvenis e de Aspirantes. Conquistou os títulos do Campeonato Mineiro Juvenil de 1966, 1968 e 1971, além dos títulos do Campeonato Mineiro de Aspirantes de 1966 e 1967. 
Em 1972, João Crispim foi para o Atlético. Retornou ao Cruzeiro em 1974, após aceitar a proposta de receber um carro volkswagen e salários de 2 mil mensais para assinar contrato. 

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