domingo, 5 de fevereiro de 2023

SPENCER - meio campista reserva do Cruzeiro Campeão Mineiro de 1966

SPENCER. Armador. Spencer Coelho (Araxá, MG, 11/06/1947). Disputou 25 partidas oficiais e marcou 6 gols entre 1966/71, além de 10 amistosos. Campeão Mineiro de 1966 e Brasileiro de 1966 (como inscrito)
Veio do América onde estava inscrito apenas para o Campeonato de futsal, em fevereiro de 1966, para o infanto-juvenil de campo do Cruzeiro. O Cruzeiro ainda conseguiu trazer junto o técnico João Crispim. Foi o troco que o Cruzeiro aplicou no América ao tirar Tostão inscrito no time de futsal em 1962 e levá-lo para o juvenil de campo. O fato originou uma crise entre os clubes, já que Spencer era visto como uma grande promessa do futebol. Disputou os Campeonatos Juvenis de 1966 e 1967 e foi campeão estadual juvenil de 66. Também atuou nos Campeonatos de Aspirantes de 1966 e 1967, sagrando-se bicampeão mineiro da categoria.
Sua primeira oportunidade no time profissional foi quando ainda era juvenil. Disputou o clássico contra o América, pelo returno, Campeonato Mineiro de 1966. Os titulares foram poupados para a segunda partida decisiva do Campeonato Brasileiro e Spencer foi um dos atletas utilizados no mistão escalado por Airton Moreira. Formou o trio de meio de campo com Zé Carlos e Ílton Chaves. Desta forma participou da campanha do título estadual de 1966. Spencer também foi um dos atletas juvenis inscritos na disputa do Campeonato Brasileiro de 66 conquistado pelo Cruzeiro, mas não atuou em nenhuma partida. 
Para ganhar experiência foi emprestado ao Araxá (MG) em fevereiro de 1968, onde ficou até 1969. Ao retornar de empréstimo foi aproveitado em algumas partidas pelo Estadual, Campeonato Brasileiro e amistosos na temporada de 1970.

Mistão na Taça Belo Horizonte
Em janeiro de 1971, Cruzeiro e Atlético solicitaram uma permissão da Federação Mineira para utilizarem seus aspirantes na disputa da Taça Belo Horizonte. Era segunda edição do torneio que foi criado para anteceder o Campeonato Estadual e que tinha todas as partidas disputadas em Belo Horizonte. A Federação Mineira acatou o pedido para que o Atlético focasse apenas na disputa do Torneio do Povo - criado pelo CND - e para que o Cruzeiro pudesse atender aos convites para a disputa de amistosos no exterior no período de disputa da Taça Belo Horizonte. Naquele ano, o Cruzeiro tinha em seu elenco quatro campeões mundiais de 1970 pela Seleção Brasileira (Tostão, Piazza, Fontana e Brito) e, por isso, recebia muitas propostas de empresários interessados em levar o time para amistosos em vários países com contratos que previam pagamentos em dólar. Em 1971 a moeda estadunidense valia quase 6 vezes mais do que a moeda brasileira. Sem contar que as despesas eram todas pagas pelos promotores dos amistosos. Assim, cada amistoso desse chegava a somar a parte que cabia ao clube das rendas de 8 partidas do Estadual. 
O mistão do Cruzeiro terminou a disputa da Taça Belo Horizonte como 3o colocado e o meia Spencer disputou todas as 5 partidas. A taça se encerrou em março e, durante este período, os titulares fizeram 11 amistosos pelo Uruguai, Argentina, Bolívia, Colômbia e Peru. O time misto da Taça Belo Horizonte contou, em algumas partidas, com alguns nomes consagrados como o goleiro Hélio, o lateral direito Pedro Paulo e os atacantes Evaldo, Natal e Rodrigues e outros que ainda buscavam espaço no time e que se consagrariam anos depois como o zagueiro Darci Menezes, o meia Eduardo e o atacante Palhinha, além do ponta direita Gil que disputaria a Copa do Mundo de 1978, como  titular da Seleção Brasileira e atendendo pela alcunha de "Búfalo Gil".

Misto Quente no Campeonato Mineiro e Cruzeiro Exportação no exterior
Após o término da Taça Belo Horizonte de 1971, o meia Spencer participou de um momento histórico do clube e do Campeonato Mineiro. As propostas vantajosas, com contratos em dólar, para o time se apresentar em outros países continuavam chegando e a diretoria cruzeirense não queria perder a oportunidade, pois tinha que fazer caixa para manter os salários dos craques do time, como Dirceu Lopes, Zé Carlos, Piazza, Fontana, Perfumo, Tostão e Raul, que eram, constantemente, cobiçados pelos clubes do eixo Rio-São Paulo. O presidente do Cruzeiro Felício Brandi reclamava do deficitário Campeonato Mineiro e decidiu escalar o mistão que disputou a Taça Belo Horizonte no Estadual. Foi uma iniciativa sem precedentes no Campeonato Mineiro que, naquela época, era um título muito valorizado. Os titulares passariam a atuar nos amistosos pelo Brasil e, principalmente, no exterior. A medida dividiu opiniões e foi recebida com protestos por parte dos clubes do interior que se viram prejudicados com a diminuição das rendas das partidas. Por outro lado, Felício Brandi se defendia e dizia que estava colaborando com o ministro da fazenda, Delfim Neto, que incentivava as exportações brasileiras e até criou o slogan "Exportar, é a libertação". Felício argumentou que o futebol era o produto do Cruzeiro e que o clube iria colaborar com a economia do país. Foi a partir daí, que o clube ganhou o apelido de "Cruzeiro Exportação" que permaneceu no linguajar da torcida cruzeirense até o final dos anos 80. O time misto realizou uma campanha surpreendente no Estadual que rendeu o apelido de "Misto Quente". Enquanto isso, os titulares disputaram 7 amistosos pela Colômbia, Costa Rica, Honduras, Guatemala, El Salvador e Panamá, além de um torneio amistoso com dois amistosos na Bahia. Spencer formou o trio de meio de campo do time misto com Toninho Almeida e Gilberto, que haviam sido promovidos dos juvenis. 

Titulares do Cruzeiro obrigados a voltar ao Brasil
Quando estava no Panamá, em 17 de abril, o Cruzeiro recebeu uma ordem do Conselho Nacional do Desporto-CND para retornar ao Brasil para disputar o Campeonato Mineiro com o time principal. O órgão, que era ligado ao governo federal, ameaçou suspender a participação do clube no Campeonato Brasileiro, caso não atendesse a ordem. Corrigidos os valores para o dólar atual, o Cruzeiro faturou 256 mil dólares nos 16 amistosos pelo exterior. Convertidos para a frágil moeda brasileira da época, seriam necessários mais do que dois estaduais inteiros para atingir esta receita. Assim, o Cruzeiro teve que cancelar à excursão que faria a Ásia e os titulares retornaram. O misto quente foi desfeito, após a 10a rodada do turno do Campeonato Mineiro - antes da rodada final contra o Atlético. Terminou a campanha na 2a colocação do Estadual, com 2 pontos atrás do líder América e 4 pontos de vantagem sobre o 3o colocado, o Atlético. Spencer continuou sendo aproveitado em algumas partidas do returno do Estadual de 1971.

Primeiro atleta a ganhar o passe na justiça
Após o clube atrasar por dois meses o pagamento nos salários, foi orientado por elementos do departamento jurídico do Atlético a não assinar o recibo de qualquer pagamento. A ideia era tirar Spencer do Cruzeiro com a promessa de que seria titular no Atlético. Uma nova lei esportiva passou a garantir ao atleta com três meses de salários atrasados receber o atestado liberatório. O Cruzeiro nunca passava de dois meses de atraso. Assim, quando um dos pagamentos foi feito, para se evitar o terceiro mês, Spencer pegou o salário, mas não assinou o contra-cheque. Entrou na justiça e ganhou o passe livre, em julho de 1971, e se transferiu para o Atlético. Foi a primeira vez que um clube foi punido com a perda de um atleta por causa dessa nova lei.

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